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a cidade que brota cosmopolítica

Alana Moraes, Dan Scan e Salvador Schavelzon

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isso foi ontem, mas poderia ser a imagem de hoje, do amanhã, nosso ‘intenso agora’.

Teatro oficina, os sem-teto, parque augusta, urucum, vizinhos, territórios cosmopolíticos, gente de bairro e do mundo, do céu e da terra. Amores.

Os fazedores da cidade real na batalha contra os donos das cercas, sempre.

É a guariroba, refazendo tudo.

Falta o arco-íris no filme do João Moreira Sales, falta o maio de 68 que não foi “derrotado”, os que respiram, falta compreender que a revolução não cabe em uma poética melancólica, não é o medo da contaminação. É sempre risco, ainda que sempre forte e infalível quando vibra o desejo coletivo de liberdade.

o intempestivo, ainda

Galileu percebeu que o telescópio podia ser orientado para o céu. Um novo universo apareceu para os homens.

No último século e meio de lutas a classe, os movimentos, as mulheres os marginais se tornaram sujeitos políticos com voz e corpos mudando a história. Fazem-se.

Vivemos agora um momento novo, onde novas sensibilidades tornam irreversível a emergência da natureza, dos rios, de Gaia, dos não-humanos, dos parques e o cosmos, sem os quais não é mais possível pensar a política.

Como os índios, as bruxas, as mulheres em suas cozinhas, os alquimistas, algumas pessoas comuns de qualquer lugar sempre souberam. Agora a política velha e cansada cai, com seu asfalto, desenvolvimento, especulação e autoritarismo, para que vivamos uma cosmopolitica do corpo, do afeto e de luta política contra a ordem e a civilização. 

A luta de clases se torna cosmopolítica. O movimento das mulheres, dos que resistem e lutam, se expande para uma revolução dos sentidos, contra o homem moderno e branco fechado para si. O carnaval é a nossa vingança.

Não se trata apenas de uma nova pauta de direitos, embora possa haver toda um novo ordenamento jurídico a partir disso.

Se trata de que começamos a perceber que rios, florestas e outros mundos também, estavam aqui sempre conosco e começam a emergir.

levantar o asfalto

abrir as cercas e des-mercantilizar o que é comum.

Debaixo de todo asfalto resiste a terra, um rio, uma cidade cosmopolítica.

“Sob o asfalto, a praia!” gritava o Maio de 68 Francês logo depois de perceberem que, debaixo dos paralelepípedos arrancados para erguer barricadas, havia areia. Havia a praia.

 

 

Foto do encontro de 26/11/07 do lado do futuro parque Bixiga, por todos os parques e rios da cidade. Nesse dia aconteceu uma aliança cosmopolítica com cortejos que partiram do Rio Anhangabaú, do Parque Augusta, se encontrando na frente do Teatro Oficina, legado, na luta contra Silvio Santos e a favor de um parque para a cidade.

Nessa jornada houve encontros de rios, lavagens coletivas, leitura de manifestos, plantio, regadio com água de rios emergentes, canto dos guaranis e corpos felizes, dançantes, marchando contra a especulação, lutando. 

Nesse dia também foi distribuido o primeiro Zine do URUCUM no pé de uma planta remanescente de Urucum, enquanto nos pintamos com a tinta da planta, no cortejo que levou água do Rio Augusta para a confluência dos rios na aliança cosmopolítica.