Pular para o conteúdo

Bordas, confluências, conversações: percursos de uma investigação companheira

Após lançarmos uma convocatória para pessoas interessadas em integrar um percurso coletivo de investigação sobre o acontecimento Covid_19, realizamos uma primeiro movimento de aproximação entre nós. Criamos uma lista de email; fizemos um encontro virtual entre os que haviam se inscrito na lista para conversar a partir de um texto, trocar experiências e algumas expectativas e convidamos as pessoas a reagirem às algumas proposições na forma de um produção livre que foi compartilhada no site da Zona de Contágio.

>> Para quem quiser ainda embarcar na investigação coletiva como praticante, mande um email para: conspire [@rrob@] tramadora.net

>> Para quem quiser apenas acompanhar o processo temos: lista de telegram: https://t.me/tramadora ; instagram: https://www.instagram.com/tramadora_lab/; Facebook: https://www.facebook.com/corpocontagio/ ; twitter: https://twitter.com/_tramadora

Quando pensamos numa prática de laboratório partimos de algumas referências que informam o desenho e as práticas desse laborátório. Ele não é uma noção abstrata ou indeterminada. Referimo-nos a uma certa arquitetura, uma ética-política, uma prática experimental, uma perspectiva ontoepistêmica: uma ciência implicada de uma pesquisa-luta. Elementos esses que esperamos explorar nesse percurso investigativo.

Diante do que experienciamos nessa última semana, a partir da momento em que a Zona de Contágio foi ativada pela presença e participação de muitos de vocês, consideramos importante olhar para o que emergiu e tramar os próximos passos dessa investigação. O momento nos convoca a indicar algumas delimitações para a investigação e também a sugerir alguns protocolos para nossa cooperação. Essa mensagem está dividida em 3 tópicos:

1. Bordas e confluências de um percurso de pesquisa – onde indicamos as questões gerais da pesquisa e indicamos um próximo passo de perguntas e atividades para a pesquisa. 

  2. Conversões febris – sugestão de bibliografia para o próximo encontro no dia 7 de maio, as 19:00hs. 

  3. Protocolo Investigativista: ensaio de um conjunto de princípios e acordos pra organizar as formas de participação e as condições de colaboração.


1. Bordas e confluências de um percurso de pesquisa

Todas nós estamos aqui por algo que nos toca; quase todas estamos também já inseridas em percursos de investigação. Carregamos experiências, corpos e desejos singulares, heterogêneos. O desafio do laboratório é constituir uma composição entre singularidades apontando, entretanto, para algumas zonas de confluência comum para que assim possamos, de fato, experimentar um encontro – uma ciência-dança de contato e improvisação. Para dar consistência a essas zonas de confluência sugerimos algumas ações temáticas nas quais podemos pensar juntas, investigar, nos fazer melhores perguntas. 

De forma simples: propomos rodadas investigativas em torno de problemas comuns. A produção do material a cada rodada será um cruzamento entre experiências, percepções localizadas, intuições sobre o mundo no qual estamos implicadas em uma conversa com reflexões trazidas por textos e outros pensamentos. Ao fim de cada rodada, poderemos então visualizar a constelação de novos problemas que surgem, novas pistas, outras encruzilhadas. 

A Zona de Contágio se constitui a partir de duas tramas de investigação: Ciência dos dispositivos; Ciência de Retomada.

Por um lado, gostaríamos de praticar uma “ciência dos dispositivos” atenta aos rastros das formas de poder e como ele organiza nossas vidas; dispositivos de desempenho, controle, biovigilância; os arranjos e mediações sociotécnicas que conduzem nossas condutas. Os dispositivos de governo que prometem nos “salvar” de nós mesmos e de nos livrar da possibilidade de pensarmos juntos o que fazer com as nossas vidas e corpos. Uma ciência dos dispositivos parte da constatação de que o poder não está dando ordens desde os lugares mais espetaculares e evidentes, mas ele, sobretudo,  está “fazendo funcionar”: os corpos, desejos, as formas de nos relacionar. Aqui podemos pensar sobre a expansão do “capitalismo de plataforma” no acontecimento-Covid; das tecnologias educacionais aos inúmeros dispositivos que organizam nossas cidades, a circulação de mercadorias e alimentos; pensar quem são os teletrabalhadores, os circuitos do “cognitariado”, os intercâmbios entre ideias de “livre iniciativa” e “empreendedorismo” com os discursos da economia de “startup” e de “inovação”; a maneira reticular como as tecnologias digitais compõem e organizam a vida ordinária, contrabandeando e alimentando um racionalidade econômica e uma ordem política.

Na mesma trama, também queremos praticar uma “ciência da retomada”:  ” É precisamente porque nossos corpos são os novos enclaves do biopoder e nossos apartamentos as novas células da biovigilância é que se torna mais urgente do que nunca inventar novas estratégias de emancipação cognitiva e resistência e lançar novos processos antagônicos. Ao contrário do que se possa imaginar, nossa saúde não virá da imposição de fronteiras ou separação, mas de um novo entendimento da comunidade com todos os seres vivos, de um novo equilíbrio com outros seres vivos do planeta.

Uma ciência de retomada pensa pelos saberes que nos foram expropriados. Como emerge nesse interstício e suspensão do mundo a percepção do Comum sequestrado – o que é (e pode ser) “saúde coletiva” e como essa “volta ao corpo” nos faz pensar sobre um mundo que já estava antes saturado por muitos lugares de asfixia? Como respirar juntos novamente?  Um ciência que pense sobre o que pode ser retomado, tecnologias menores que potencialize nossa capacidade de agir e sentir o mundo vivo; formas não proprietárias, reapropriação das formas de reprodução da vida – da casa à infraestrutura urbana. Uma ciência que sustente formas de vida não-fascista e que investigue novos problemas porque não se contenta em apenas responder os problemas que nos colocam.

“Si lo vemos bien, la biopolítica nunca ha tenido otro propósito: garantizar que nunca se constituyan mundos, técnicas, dramatizaciones compartidas, magias, en el seno de las cuales la crisis de la presencia pueda ser vencida, asumida, pueda devenir un centro de energía, una máquina de guerra”.


Proposição:  Nessa rodada, a zona de confluência investigativa se dará em torno da experiência temporal e dos sentidos da presença.


Queremos olhar para a ambiguidade presente no acontecimento Covid19 entre a suspensão do tempo, um respiro (a paragem brusca da qual falou Latour aqui: https://bit.ly/2SltcU4) e, por outro lado, uma experiência de tempo acelerado, asfixia, produzida pelos novos dispositivos de produtividade, desempenho, mobilização permanente. As fronteiras entre vida, prazer, trabalho encontram-se esfumaçadas. O tempo da domesticidade, aliás, é caracterizado pelo embaralhamento dessas fronteiras; os novos dispositivos do teletrabalho atuam também diante da nossa culpa civilizacional de experimentar o tempo livre; precisamos nos mostrar produtivos, disponíveis, enquanto as tecnologias digitais ampliam a mensurabilidade, o controle e a mobilização total de nossas vidas. A oferta ampla de entretenimento virtual parece querer nos salvar do desconforto do tempo suspenso e da catástrofe que estamos vivendo: “Tenemos que escoger si queremos seguir siendo un terminal del algoritmo de la vida que organiza el mundo o bien un interruptor de la pesadilla que nos envuelve”. O que significa “parar”? O que significa não poder parar, nunca? ” los lentos son perdedores!”.

Como pensar a rivalidade entre desempenho e experiência, conexão e relação, sacrifícios individuais e o prazer do encontro como imagem da luta de classes no capitalismo contemporâneo?

Para essa primeira rodada, sugerimos também a companhia dos dois textos da próxima Conversação Febril (a seguir).

Novamente, sugerimos que o material seja publicado como “comentário” no post do site: https://www.tramadora.net/?p=1823   até o dia 7 de maio.  Sugerimos o movimento de ler com atenção aos comentários de outras praticantes, talvez algo te convoque para novos lugares, talvez haja o desejo de comentar, iniciar uma conversa.

2. Conversações Febris: 7 de maio de 2020, conexão 19:00hs
*Amador Fernandez-Savater: La pesadilla de un mundo en red: https://rebelion.org/la-pesadilla-de-un-mundo-en-red/ 

*Ailton Krenak: Do tempo: https://n-1edicoes.org/038

3. Protocolo Investigativista (PIA)

Nessa experimentação, o próprio desenho do laboratório (infraestruturas, protocolos, métodos, documentos, artefatos etc) é parte da investigação. Encontrar a melhor forma de caminhar junto, de habitar problemas comuns e constituir um coletivo que sustente uma prática no tempo, exige muita mediação, cuidados, práticas e conhecimentos, uma verdadeira arte do pharmakon. Como evitar as práticas de pesquisa que convertem a participação em mecanismos de captura e extração? Como lidar com as armadilhas dos dispositivos autorais, sua economia e as divisões do trabalho que ela engendra? Como lidar com os regimes de propriedade, acesso e posse do conhecimento produzido? Muitos aqui estão habituados às iniciativas de colaboração, no campo científico ou artístico e sabem que essas perguntas não são triviais. A experiência indica que um boa estratégia para enfrentá-las é evitar os princípios abstratos e verificar na prática, caso a caso e de forma situada, qual é o desenho dos protocolos que desejamos estabelecer. Este protocolo de pesquisa coletiva também almeja atacar o problema de identidade e de fronteira que delimitam a Zona de Contágio: como evitar o fechamento identitário e bloquear a chegada do novo? Como manter a continuidade, o acúmulo das experiências, o reconhecimento e as mutualidades? Novamente, estamos diante de um problema das composições e pertencimentos, ligas e alianças. O Laboratório, nesse sentido, é também um experimento de uma tecnologia social de pertencimento. Desejamos conversar sobre este tema e vamos abrir uma página wiki pra edição colaborativa desse protocolo. Vamos publicar uma versão 1.0 e enviaremos outra mensagem com o link.

14 comentários em “Bordas, confluências, conversações: percursos de uma investigação companheira”

  1. …e tbm com uma ciência da plenitude, da inter-eco-dependência e com políticas de cuidado-comum-comunitário. um txt de um teórica-militante feminista que gosto muito: Yayo Herrero – continuando também apresentação e contágios (o tema do ecofeminismo, economia subversiva feminista e economia/ética dos cuidados, mobilizam muito do meu trabalho e vida últimos anos, além da produção latino-americana de autorxs e movimentos sociais). duas espanholas – pintura de Remedios Varo.

    Yayo Herrero – Los monstruos que habitan la normalidad

    “La excepcionalidad ofrece un corto minuto de luz para dejar al descubierto los monstruos que habitan la normalidad: los recortes en la sanidad; las residencias en las que las personas mayores esperan la muerte y quienes les cuidan están explotadas; obispos que rechazan un ingreso mínimo vital y se preocupan más por que la gente viva subsidiada que por el hecho de que no vivan o vivan mal; la patronal del agua que pide abiertamente poder cortar el agua a la gente confinada; un goteo de informes que van mostrando la correlación entre la mayor virulencia y letalidad del coronavirus y el hecho de vivir en lugares en los que de forma prolongada se ha respirado aire contaminado; personas que viven en infraviviendas, que tienen dificultades para comer; gente que vigila desde el balcón, que señala, denuncia, odia; y unos pocos que hacen caja electoral o económica con la mentira o el odio que provocan. espués de la excepción, llegará la normalidad. Como dice Defred, lo de antes era normal y lo de después también será normal. La normalidad de Gilead es ecológica y monstruosa. La vida es austera, se consume poco. “Ya no quedan muchas cosas de plástico. Recuerdo aquellas bolsas blancas de plástico que daban en los supermercados; cómo odiaba desperdiciarlas”, recuerda Defred. Quedarse en la distopía se convierte hoy en algo conservador, que alienta el miedo sin encontrar otra salida que hacer caso omiso de las señales.”

    ¿Podemos organizar la existencia para que la vida de la gente, el territorio o los animales tengan sentido en sí mismos y no solo por ser valiosos –monetariamente valiosos? ¿Cómo convertir en normal la explosión comunitaria que estamos viviendo? ¿Es posible pensar en una forma de alimentarnos, de acceder a la vivienda, de cuidarnos y de construir seguridad que sea igualitaria? ¿Es posible construir horizontes de deseo que sean compatibles con las condiciones materiales que los hacen posible para todas? ¿Es posible blindar suelos mínimos de necesidades para todas las personas?¿Se puede aprender a vivir bien con lo suficiente? ¿Es posible dejar de destruir y regenerar esa tierra que nos alimenta y nos sostiene? ¿Cómo construir una autodefensa colectiva que nos proteja de quienes desahucian toda forma de vida con tal de ganar dinero?”

    Y sobre todo ¿es posible hacer que este horizonte sea deseable para mucha gente? Probablemente requiera un equilibrio sabio y amoroso de distopía y utopía. Atwood da algunas claves para iniciar el camino. Ojalá sepamos caminarlo.”

    https://ctxt.es/es/20200401/Firmas/32033/covid-sanidad-residencias-crisis-ecologica-pobreza-Atwood-Yayo-Herrero.htm?fbclid=IwAR2MJY0L37Z__OU1QhqsB2u-Zoc4-qCy1NqdxdBOQZcvEP6uMxFO1yaHd5U

    1. Marcia, que forte esse texto da Yago. Gostei da forma como ela nos convoca a pensar a tal “normalidade” que virá. Em alguns espaços sociais em que tenho mantido atividade remota (trabalhos) é bem estranho sentir a pressão de normalização do que estamos vivendo, como se o problema fosse fazer a vida funcionar sob essas condições, na espera de que a crise passe e depois voltemos à tal normalidade. Assumir o acontecimento covid-19 como um ponto de mutação implica em disputar os sentidos dessa experiência, de maneira que não voltemos à normalidade ecocida. Abraços, Henrique

      1. …sim, as “normalidades” e “loucuras” estão em disputa,
        o enigma em aberto é se conseguiremos construir um consenso (ur)emergente de um “novo comum” (pela comunidade de humanos não humanos, animas de terra sol solo patas pelos galhos pele, povos…) e isso seja
        um ponto não apenas filosófico ou hipie mas praticamente político, como as questões que Yayo nos coloca…ou de outra forma por Krenak:
        “Somos mesmo uma humanidade?
        (…)As andanças que fiz por diferentes culturas e lugares do mundo me
        permitiram avaliar as garantias dadas ao integrar esse clube da humanidade.
        E fiquei pensando: ‘Por que insistimos tanto e durante tanto tempo em
        participar desse clube, que na maioria das vezes só limita a nossa capacidade de invenção, criação, existência e liberdade?’. Será que não estamos sempre atualizando aquela nossa velha disposição para a servidão voluntária? Quando a gente vai entender que os Estados nacionais já se desmancharam, que a velha ideia dessas agências já estava falida na origem? Em vez disso, seguimos arrumando um jeito de projetar outras iguais a elas, que também poderiam manter a nossa coesão como humanidade.
        Como justificar que somos uma humanidade se mais de 70% estão
        totalmente alienados do mínimo exercício de ser? A modernização jogou
        essa gente do campo e da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros urbanos. Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de seus lugares de origem, e jogadas nesse liquidificador chamado humanidade. Se as pessoas não tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências que dão sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos.”

        1. PS: nenhum problema com filósofxs e hippies as vezes entro e saio desses lugares 🙂 e certamente sem problemas estarmos e sermos de tudo nesse sentido de identificações não facistas “faz o que tu queres … é tudo da lei” (nada mais hippie que Raul?).

  2. Durante o final de semana eu fiquei pensando sobre a proposição de pensar os sentidos da presença e depois de ler o comentário da Marcia Maria Tait Lima sobre “uma ciência da plenitude, da inter-eco-dependência e com políticas de cuidado-comum-comunitário”, eu lembrei de uma história curta da Ursula Le Guin em que uma personagem (Eva?) decide propor para todos os seres do jardim (do Éden?) que eles devolvam seus nomes para quem os nomeou (Adão e Deus?). É uma história bonita que eu gosto de ler como uma história sobre prestar atenção e inventar novas forma de se estar-em-companhia de outros.

    Deixo um trechinho dela aqui e a história completa anexada.

    “Não restava mais ninguém para ser desnomeado, e mesmo assim eu me senti tão próxima deles quando eu via um nadar ou voar ou trotar ou rastejar pelo meu caminho ou sobre minha pele ou me vigiar à noite, ou seguir por um tempo ao meu lado durante o dia. Eles pareciam muito mais próximos do que quando seus nomes ficavam entre eles e eu como uma barreira transparente; tão próximos que meu medo deles e o medo deles de mim se tornou o mesmo medo. E a atração que muitos de nós sentimos, o desejo de sentir ou esfregar ou acariciar as escamas ou a pele ou as penas ou o pelo uns dos outros, sentir o gosto da carne ou do sangue uns dos outros, aquecer uns aos outros — a atração se fundiu em uma com o medo, e o caçador não poderia ser distinguido da caça, nem aquele que come do que é comido.”

    Ursula Le Guin. Ela os desnomeia

    1. Essa coisa do nome Bru, é muito louca pra mim e acho muito potente mesmo, percebo isso desde coisas simples a mais complexas… Como algumas pessoas por exemplo determinam um relacionamento seu com “a natureza”, “o meio ambiente” por terem uma ideia específica do que está por trás dos nomes… E até coisas simples: Como as vezes a gente não consegue usar um objeto de outro modo porque o nome está tão colado a função que orienta nossa relação com ele e torna difícil para nós escaparmos disso. O budismo tibetano atravessa essas coisas também, tem a ver com o que chamam de “originação dependente”. E boa parte do processo meditativo está em abrir espaço nesse sentido. No caso do relacionamento com as pessoas eles falam que o momento que você conhece alguém é de extrema importância porque você “dá nascimento ao ser” que é, como você registra internamente uma ideia desse ser, que podemos dizer aqui que é uma outra pessoa, ou o planeta, sei lá, e a partir disso constrói as bases da relação com esse ser. Isso pode mudar, se você conseguir abrir espaço no que acha que conhece. Isso é muito importante porque tem aí uma ideia de que a pessoa responde a esse “nascimento” que você deu a ela mesmo que silenciosamente. Seja porque seu relacionamento vai deixar escapar essa ideia, seja porque tem um nível quântico em que sua ideia constrói a realidade da relação. Mas a questão é que a relação é um elo, se conecta por duas extremidades ao menos… e eles tem suas “valências”. Gosto de pensar nos nomes e pensar nas relações a partir dos nomes e das ideias por trás deles, nos limites e possibilidades das relações e no espaço. No caso, acho que a pandemia está causando deslocamentos que nos fazem repensar esses nascimentos que demos as coisas e aos seres e o modo como determinamos as possibilidades de relação a partir disso. Desde o planeta, até as pessoas da nossa família, os vizinhos, as coisas que quando não podemos repor temos que fazer gambiarras e reinventar as funções por trás de objetos, etc.

    2. a sua intervenção nesse exato momento me trouxe em este conto, gostei do seu.
      bj.
      (o começo de arrepiar, ele todo é)

      Casa Tomada — Júlio Cortázar

      https://acervo.revistabula.com/posts/traducao/casa-tomada-julio-cortazar

      Entramos nos quarenta anos com a inexprimível idéia de que o nosso, simples e silencioso matrimônio de irmãos, era o fim necessário da genealogia fundada por nossos bisavós em nossa casa. Morreríamos ali em algum dia, vagos e distantes primos ficariam com a casa, e a demoliriam para enriquecerem com o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos, inflexivelmente, antes que fosse demasiado tarde

      Os primeiros dias nos pareceram penosos porque ambos tínhamos deixado muitas coisas que amávamos na parte tomada. Meus livros de leitura francesa, por exemplo, estavam todos na biblioteca. Irene sentia falta de umas toalhas, um par de chinelas que a abrigavam muito no inverno. Eu lamentava o meu cachimbo de zimbro e acho que Irene pensou em uma garrafa de Hesperidina de muitos anos. Com freqüência (mas isto só aconteceu nos primeiros dias) fechávamos alguma gaveta das cômodas e nos olhávamos com tristeza.

      — Não está aqui.

      E era mais uma das coisas de tudo o que tínhamos perdido no outro lado da casa.

      Mas também tivemos vantagens. A limpeza ficou tão simplificada que mesmo nos levantando muito tarde, às nove e meia, por exemplo, não eram onze e já estávamos de braços cruzados. Irene se acostumou a ir comigo à cozinha e me ajudava a preparar o almoço. Pensamos bem, e decidimos isto enquanto eu fazia o almoço, Irene prepararia pratos frios para a noite. Alegramo-nos porque sempre se torna incômodo ter que abandonar os quartos ao entardecer e se pôr a cozinhar. Agora nos bastavam a mesa no quarto de Irene e as travessas de comida fria.

      Irene estava contente porque lhe sobrava mais tempo para tricotar. Eu andava um pouco desorientado por causa dos livros, mas, para não afligir minha irmã, comecei a examinar a coleção de selos de papai, e isso me serviu para matar o tempo. Nós nos divertíamos muito, cada qual em suas coisas, que era mais confortável. Às vezes Irene dizia:

      — Olhe só este ponto que inventei. Não se parece com um trevo?

      Um instante depois era eu que lhe punha diante dos olhos um quadradinho de papel para que visse o valor de algum selo de Eupen e Malmédy. Passávamos bem, e pouco a pouco começávamos a não pensar. Pode-se viver sem pensar.

      (Quando Irene sonhava em voz alta, eu acordava imediatamente. Nunca pude me habituar a essa voz de estátua ou papagaio, voz que vem dos sonhos e não da garganta. Irene dizia que meus sonhos eram grandes sacudidelas que, às vezes, faziam cair o cobertor. Nossos quartos tinham um living separando-os, mas, de noite, se escutava qualquer coisa na casa. Nós nos ouvíamos respirar, tossir, pressentíamos o gesto que conduz ao interruptor do abajur, as mútuas e freqüentes insônias.

      Fora disso, tudo estava silencioso na casa.

  3. Dia 24 publiquei um escrito meio circular sobre distração. Enviei para uma amiga com quem gosto de conversar. Bárbara, socióloga que estudou redes de distribuição de alimentos, agroecologia e interdisciplinaridade. São sempre encontros alegres, desses que o encontro acontece em várias dimensões… e é possível se comunicar de outras formas. Ela leu e falou sobre a culpa que sentia em relação as distrações. Disse que queria ter uma relação mais leve, como a que percebeu no texto. E conversamos um tempo aquela noite. A conversa acabou em minhocas. Mas antes disso passou pelo sofrimento da distração e problemas que ela vinha causando na minha vida nos últimos anos em meio a outras descobertas sobre o passado, memórias, perdas e incertezas… Incertezas de antes da pandemia. Percebi que a distração que via como problema e sofria como problema pela tensão com trabalho, poderia ser recurso investigativo. Ando tentando sair do processo de tentar ocupar esse espaço que anda crescendo durante a quarentena com análises e etc ou qualquer coisa que tente intencionalmente ocupar o espaço da angústia. Daí tem o espaço, as vezes vazio, as vezes estranho, muitas vezes pouco ou nada confortável, mas sempre poderoso, que estou tentando viver quando ele aparece. As vezes por algumas horas, as vezes por dias. O texto traz um pouco disso. E de outra forma, algo sobre o refinamento das trocas, a escuta e atenção aos afetos.

    https://medium.com/@julianameira_81666/a-distra%C3%A7%C3%A3o-de-eco-cd121f1d9d95

  4. * caderninho verde

    4/5/2020
    7 ½ andar

    futuro no presente
    a planta na semente,
    colher na semente do caqui

    5/5/2020
    a distopia, nas séries, vem por partículas no ar
    flocos
    a contaminação invisível,
    polvilhada

  5. Muito de narrativas asiáticas estão nas referências de uma série de “tudo virando tudo e nada virando nada” nas nossas experiências quando passo por esses encontros com família, grupos de pessoas diversificado que se olham e se escutam das telas.
    Me deu na telha de partilhar com vocês um apunhado de links de diversas referências do que se conhece, genericamente, por “cultura otaku”.
    Primeiro, também para entreter as pessoas pequenas, pode ser muito legal viajar por narrativas de desenhos bem diferentes dos desenhos animados das redes cartoon, nikcelodion, disney (…), produções que a netflix capturou daquela época de TV a cabo não muito distante…

    Se quiserem produzir dados no navegador de outras experiências, vou indicar uma plataforma de streaming de animes e indicar alguns que gosto, mas dá de fuçar esse mundo e encontrar coisas incríveis, a plataforma é bem completa: https://www.crunchyroll.com/pt-br

    O crunchyroll é uma plataforma parecida com o esquema netflix, primevideo e afins. O plano gratuito é cheio de propaganda, mas dá pra aguentar. Esqueminhas de bloqueio de cookie e vc dá seus dados prum streaming japonês com plataforma traduzida em pt.

    Os animes de mangá são os que eu acompanho mais. Tem do bom e velho Cavalheiros do Zodíaco (que os otaku que me perdoe, acho uma bosta de narrativa, mas adoro), até dos primeiros e mais recentes arcos de DragonBall (um dos meus preferidos, sem dúvidas), Pókemon e esses conhecidos. O meu mais que preferido da vida toda se chama One Piece, é sobre uma tripulação de piratas que se jogam no mundo de ilhas que é o mundo (é bem engraçado isso no desenho, é como se o mundo inteiro tivesse a geografia de arquipélago, como o Japão). Na narrativa, o Muguiwara no Ichimi (Bando do Chapéu de Palha), é uma tripulação composta por jovens com diferentes habilidades: a tripulação é composta por personagens que vão se encontrando e estabelecendo relações desde que o Luffy (capitão do bando) decidiu sair da sua ilha para conhecer o mundo de ilhas, no sonho de ser um grande pirata, o Rei dos Piratas! Ele vai “montando” a sua tripulação na medida em que ele conhece um espadachim que saiu pelo mundo pra ser o melhor espadachim pirata de que se tem notícia, depois conhece uma navegadora ladra que sonha em desenhar o mapa de todas as ilas do mundo, também conhece uma historiadora que veio da ilha dos historiadores que cavam a história das ilhas e a conexão entre elas, conhece um cozinheiro que sonha em cozinhar os peixes daquela região lendária do Oceano em que – reza a lenda – passa o fluxo de todas as partes do oceano! Tem até o músico da tripulação! A passagem desse bando de anarco-piratas, por cada uma das ilhas que conhecem, tem a ver com estabelecer as relações de amizade e inimizade e, cada qual com sua força, desejo e habilidade prática de se defender, siga unida como nakamas (que significa: parceiros, amigos de uma mesma família, irmãos de um mesmo contexto). A escolha de ser tripulação é livre, se o tripulante não quiser integrar os piratas Muguiwara, não tiver vontade de ser nakama, é nóis, tudo bem, o capitão também está lá e vai seguir junto por escolha livre. Ele escolhe ser imprudente, muitas vezes. Mas ele sabe se um tripulante está tendo uma escolha contra sua própria vontade. E se as escolhas contra a própria vontade fazem sofrer, o capitão Luffy faz de tudo para transformar todas as condições a fim de que todas as escolhas sejam livres, principalmente daqueles com os quais ele se compromete. A tripulação é toda incrível. Costumo dizer que Muguiwara no Ichimi é a esquerda que o Brasil merece: doida, em grupo itinerante, alegre, passa umas merda, passa umas boa, em relação que dura, em relação que dispersa.

    Amo One Piece, é do tipo desenho favorito de esperar sair 2h depois que saiu no Japão o episódio novo (e isso é um problema: é feito desde 1997 e ainda não acabou, é uma aventura de anos e mais de 900 episódios. Oda-San, autor da série, promete acabar daqui uns 3 anos, os fãs não aguentam mais esperar esse fim da saga, Game of Trhones num é nada perto do que sofrem fãs de One Piece). Aliás, sobre a saga: taí uma boa diferença entre narrativas de desenho animado asiático e as narrativas “disney”, o fim é o que menos importa. Não tem o que salvar no fim, afinal, muitos personagens são processos e caminhos itinerantes, são o que salva aqui e agora, já são a força que têm quando precisam ser fortes e atravessam alegrias, bons encontros, maus encontros, alívio e desespero. Em One Piece, assim como em muitos mangás e animes, personagens são processos.

    Voltando às indicações de coisas legais para buscar no crunchyroll, para pessoas bem pequenas, que dificilmente acompanhariam muitos episódios de animes de mangá, o site tem muitos animes de mangá Yonkoma (em tirinhas). Essa disposição de personagens que visualizo em One Piece, também percebo nos yonkoma (geralmente feito para crianças). Hello Kitty é um exemplo de yonkoma mais conhecido, mas tem vários outros muito bons. Bono Bono é muito bonitinho! É um estilino de Peppa Pig, mas com uma apresentação de personagem bem mais esparramada de suas individualidades. Esse site tem um problema: tem desenho para todas as idades, mas não vai ter dublagem 🙁 o que é uma pena, porque os desenhos yonkoma que eles têm são incríveis!

    No mais, as alternativas de narrativas da “cultura otaku” também estão nos streamings mais conhecidos. O catálogo da netflix tá disponibilizando os animes dos Estúdios Ghibli (que são incríveis e trazem essa característica de personagem que mencionei, mas acho que em menor grau por ser uma espécie de “disney do Japão”). Totoro, Chihiro, Mononoke, Kiki, são personagens de um universo próprio, de fora pra dentro, de baixo pra cima, vivem o território que os cerca em experiências cotidianas ou inesperados do cotidiano que são os acontecimentos mais presentes que fazem o “fim” ser um “presente inevitável”, e não um futuro distópico ou utópico.

    Bem, escrevi demais. Mas queria indicar só mais uma narrativa de mangá que virou anime e que enquanto está na netflix, não percam a oportunidade de assistir! Akira. O mangá é de 1988, o Anime de 1989. Akira é o nome da força que dá título pra obra. Uma força estranha, humana e não-humana, sedutora, incontrolável. A juventude considerada delinquente das ruas de neo-Tokyo no ano pré-olímpico (sério) de 2019, é atraída por essa força de transformação de proporção gigantesca e perigosa. Os super ricos e enriquecidos com as olimpíadas desejam o controle dessa força, o uso dessa força como arma e até como doença e saúde doentia (tem personagens doentes bem ilustrativos disso). A narrativa também tem elementos que remetem ao trauma nuclear da porra toda de muito do que mangás, filmes e literatura no Japão encenam as bombas e ataques nucleares dos EUA.

    Assisti e re-assisti muitas referências do que definem “cultura otaku”. O que circula mais e o que circula menos. Tem muito desenho que só passa no Japão, tem muito desenho que ganhou mercado no Ocidente (…) e poraí vai. Mas gosto dessa apresentação de personagens-processo dentro de narrativas insulares 🙂

    Abraços, espero que gostem das indicações \o/

  6. Experimentar o acontecimento covid-19 como uma interrupção e uma brecha, assumir o risco comum de torna-lo um ponto de mutação. Como criar um antes e um depois? Diante desse corte que nos atravessa da escala molecular à escala planetária, do ínfimo ao íntimo, do pessoal ao transindividual, o que me estranha são os que desejam a volta à normalidade.

    Desde que comecei a praticar o autoconfinamento voluntario (18 de março) minha relação e percepção temporal sofreu inúmeras transformações. As duas primeiras semanas já são muito diferentes do agora.

    No início, a interrupção na rotina dava a impressão que o tempo iria se dilatar. Nos primeiros dias houve uma certa plasticidade na organização do cotidiano, uma vez que muitos compromissos fixos com atividades presenciais deixaram de se realizar. A interrupção brusca também contribui para uma percepção mais aguda dos diversos agenciamentos e mecanismos cotidianos que estavam inscritos na gestão da casa, nos cuidados da filha, no trabalho, na relação com a cidade e suas infraestruturas, toda a sustentação da vida. Estar presente de outra forma nas mesmas coisas é uma nova dobra sobre si.

    A repentina interrupção da rotina permitiu uma experiência de tempo mais fluida, abriu alguns buracos pra viver outros ritmos e ser habitado por outras sensações. Me senti convocado a experienciar o acontecimento de forma intensa, desejoso de produzir outros sentidos e invenções coletivas na direção de experimentaçoes necessárias diante da catrástrofe. Como a situação covid-19 poderia ser disparadora de uma reorganização da vida cotidiana, sobretudo nos aspectos invisibizados da chamada “reprodução” (que é onde a vida mesma se produz) e seus arranjos (a família, a casa, os cuidados…) para experimentarmos outras formas possíveis de vida em comum?

    Para além das medidas de autoconfinamento familiar ou individual, para além da urgente e necessária reiteração das medidas imunitárias de controle sanitário estatais, para além do governo biopolítico da nossa existência, que outras iniciativas solidárias de sustentação e invenção da vida em comum e promoção da saúde coletiva seríamos capazes de experimentar? Momento singular para experimentar a hipótese do Comum diante da forma-Estado e da forma-Mercado. O passo em direção à Zona de Contágio é parte dessas experimentações e inquietações.

    A sensação temporal daquelas primeiras semanas durou pouco. A derrota (pelo menos de uma parte do que se ensaiava) veio a cavalo, como dizem. A primeira limitação foi a tentativa de criar estratégias de cuidado compartilhado entre algumas famílias, a partir da criação de alguns protocolos em que assumíamos delimitações para um risco comum. Sabemos que a forma-casa-família é um dispositivo muito rígido e com longa reticulação, mas seguimos insistindo nessa aposta. Combinar estratégias de cuidado compartilhado com as necessidades de deslocamento seguro na cidade, trabalho e manutenção alimentar começou a ser melhor resolvido pelos dispositivos tecnológicos do capitalismo de plataforma que ofereciam soluções mais rápidas do que nossa capacidade organizacional de criar respostas coletivas.

    O resultado (ao menos neste momento) foi o fortalecimento da nucleação familiar e uma experiência de reorganização temporal: libera-se tempo em algumas frentes e intensifica-se noutras. Logramos manter uma rede com dois-três núcleos ativos, o que exigiu muita invenção e aprendizados, mas noutra medida o capitalismo foi mais ágil. É uma disputa dromológica entre possíveis ecossistemas. Insistimos, ainda, por “uma reprodução que nos dê vida, que nos dê um futuro, que nos nutra — e que não nos mate”, como afirma Silvia Federici.

    A interrupção das aulas da minha filha também abriu inicialmente algumas brechas que permitiram que ensaiássemos encontros com crianças e famílias cujos horários escolares e laborais bloqueavam antes a emergencia de atividades conjuntas. Mas com o acirramento do isolamento esses encontros não avançaram. A escola, assim como a fabrica, a universidade (e muitos trabalhos) introduzem inúmeros mecanismos de ordenamento logístico na vida cotidiana; dispositivos que contrabandeiam uma normatividade econômica e política sob a forma da eficiência e praticidade. Funcionam como dispositivos de redução da complexidade para o qual delegamos nossa incapacidade organizativa.

    Os modos de vida das famílias (da nossa rede) na cidade e nossa dependência das infraestruturas (transporte, habitação, consumo e trabalho), somado às novas exigências de isolamento social impuseram um novo bloqueio às experimentações. “O poder é logístico, ele reside nas infraestruturas”, é aí que ele se produz e se atualiza de forma imanente (como diz o Comitê Invisível, ecoando o que os ESCT afirmam há 30 anos).

    Hoje conseguimos nos organizar pra internalizar as 5 horas que ela estaria na escola. São momentos de reinvenção da presença, novos vínculos, afetos e intensidades. Mas o tempo que nas primeiras semanas era mais generoso conosco rapidamente começou a ser disputado e capturado pelo mundo “lá fora”, que através da mediação das tecnologias digitais de comunicação penetra e reconfigura o espaço doméstico. Ela já percebeu e disse que “semana passada era mais legal”.

    Em resumo, o tempo está intensificado, recodificado e novamente metrificado em novas composições. O tempo para a organização e manutenção da vida doméstica, após algumas semanas de confinamento parece que cresceu e ficou mais denso. O tempo que antes era liberado pela externalização da educação escolar também cresceu no espaço que ocupa na casa. A escola ainda tenta ofecerer algumas atividades à distância para manter, sobretudo, o vínculo entre as crianças (o que é muito mais interessante do que tentar ofecerer uma extensão da escola e continuar a formação via telemática). Mas não estamos dando conta de manter o ritmo de conexão escolar e seguimos co-criando atividades com a pequena. Há ainda um outro componente que são as novas urgências relativas aos cuidados que emergem diante de uma condição de vulnerabilidade ampliada que atingue pessoas próximas.

    Por fim, o trabalho (profissional) atravessa tudo, na medida em que ele agora acontece totalmente dentro de casa. A gestão universitária, com relativa agilidade, promove uma reconfiguração de parte de nossas atividades para que o trabalho possa seguir acontecendo. Novas mediações sociotécnicas entram em cena e com elas novas formas de controle, reorganização do ensino e da pesquisa na universidade, mutações cognitivas, nos regimes de sensibilidade, mobilização e engajamento e nas relações entre professores e estudantes. Mas também me surpreendo em reconhecer que muitas atividades seguiram sem mudanças significativas, o que me faz pensar que parte da minha vida laboral pré-pandemia já estava configurada para funcionar sob um regime que agora reconhecemos como de isolamento.

    Sigo para um próximo post.

Não é possível comentar.