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Domesticidade

“A pandemia me forçou a habitar o mesmo lugar de uma forma radicalmente diferente. Agora já não habito o mesmo mundo.”


A experiência pandêmica nos proporcionou o colapso sincrônico entre as escalas planeta-casa-corpo. Fronteiras e divisões que pareciam fixas se atualizam e se reconfiguram; revelando sua falácia e artificialidade. O contágio, o transbordamento, as interdependências estão por toda parte. A situação nos convoca a inventar outros corpos, outros regimes de sensibilidades, outras formas de ser e conhecer.
A suspensação inicial da rotina, nos primeiros momentos da pandemia, visibilizou a fina trama das infraestruturas das cidades, da casa e dos trabalhos invisíveis que sustentam a vida comum.

Com a  continuidade da situação pandêmica, a organização da vida previamente existente se intensifica através de velhos e novos dispositivos de governo da nossa existência. Entre o mito da casa-refúgio e o vivido na casa-fábrica-escola-prisão há uma pletora de experiências com os mecanismos de controle mas também de criação de novos ritmos, desvios, alianças e insubmissões: devir-selvagem.


A mistura corpo-casa-planeta cria novos conflitos sobre velhos divisores. Queremos descrever e narrar as práticas pelas quais o tempo de trabalho e o tempo de não-trabalho torna-se cada vez mais indistinto; contar como o público-estatal e o privado-capitalista se organizam na trama casa-família-estado-corporação; Que corpo a casa faz? Como a casa se torna uma rígida fronteira que separa o “dentro” do “fora”?  investigar as atualizações da monocultura – plantation – em arquiteturas e formas de habitar que produzem o regime heterossocial, seus corpos, seus funcionamentos generificados; sentir como o desenho da forma-cidade, suas infraestruturas e assimetrias se manifestam a partir de uma experiência onde morar já não é a mesma coisa. 

Domesticidade é a noção disparadora do próximo encontro investigativo da Zona de Contágio (05/11).
Quinta-feira 05/11 às 19hs:

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Sobre o percurso:


Desejamos aproveitar os encontros virtuais como momentos de criação e discussão coletiva, para adensar nossas pesquisas a partir das práticas de conhecer que caracterizaram a Zona de Contágio: um laboratório de investigação e produção coletiva; interpelada pelo acontecimento pandêmico, feito a partir de muitas experimentações que atuaram nos limites das nossas formas de produzir conhecimento, nas impossibilidades-possibilidades da produção de uma presença diante da tela, na confluência de uma ciência dos dispositivos e de uma ciência das retomadas.


Em cada encontro, neste ciclo final, teremos a ativação de uma trama investigativa inspirada por uma noção disparadora. Essa trama é feita das diversas perspectivas que alimentam nossa experiência em torno dessa noção e que possam constituir fios investigativos sobre o acontecimento pandêmico. É uma trama feita de corpos-territórios-saberes-poderes-tecnologias; na descrição dos dispositivos de poder e das diversas práticas de esquiva, alianças, ritmos e suas encruzilhadas.


Pensamos que cada noção, em cada encontro, será disparadora de criações individuais e coletivas que irão compor a publicação, mas também poderão alimentar outras obras de autoria múltipla feitas de muitos fragmentos (novos ou reapropriações de trabalhos que compuseram o percurso da Zona de Contágio).
Para este encontro da próxima quinta-feira (05/11) ativaremos uma segunda trama em torno da noção de Domesticidade.


Até lá queremos trocar materiais que possam compor o encontro: imagens, textos, outras pesquisas, áudios, vídeos, conversações, artefatos que possamos seguir desdobrando em criações até a ativação da próxima trama. Para essas trocas mais ágeis que compõem os encontros podemos utilizar a lista de email ou o grupo do telegram:
Enviaremos aqui também um link para o drive que serve como repositório de materiais (fragmentos, rascunhos ou criações finalizadas) para a investigação coletiva e publicação final:


Como seguir criando perguntas e narrativas que habitem a Pandemia Covid19 com a radicalidade que ela nos força a pensar, mantendo a abertura e a vibração deste acontecimento? Como investigar coletivamente resistindo à paralisia das formas institucionais de pesquisa, nos aliando com lutas e movimentos da vida e da terra que não estão na universidade?


Desejamos que o exercício criativo seja inspirado pelos afetos que constituímos e que sustentaram a formação desse coletivo improvável e implicado em problemas comuns. Queremos insistir na experimentação ontoepistemológica que atravessou a realização de todos os nossos encontros e pretendemos que essa publicação dê consistência a este corpo-sensor-coletivo capaz de deslocar a política do sensível, criando outras condições de sensibilidade, percepção, objetividade e análise. Neste fazer, outros fatos e evidências são fabricadas simultaneamente à constituição do laboratório enquanto uma comunidade política e epistêmica temporária.