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Segurança e monitoramentos: a democracia securitária na pandemia

Editorial: exposição da proposta

O LASInTec (Laboratório de Análise em Segurança Internacional e Tecnologias de Monitoramento) compreende a gravidade da atual situação que estamos devido a pandemia causada pelo novo coronavírus, que se espalha por diferentes partes do planeta há mais de 3 meses. Nossa posição é que apenas o apoio mútuo, o autocuidado, a autogestão e a ação direta são capazes de conter a morte em massa que já vem ocorrendo em todo planeta e que se anuncia no Brasil. Mais do que conter as mortes, essa posição nos orienta sobre a reposta ao que a pandemia colocou para todo planeta: qual vida queremos viver? Compreendendo “vida”, para além do fato biológico, e “morte”, para além dos registros estatísticos e georreferenciados. O que nos preocupa são as clivagens sociais e políticas que poderão decorrer desse acontecimento em termos de perda de liberdades, produções diferenciadas de status de cidadania e aprofundamento da exploração do trabalho e das desigualdades sociais.

Compreendemos que governos de Estados, empresas, empresários e grandes corporações multinacionais estão mostrando, de forma reiterada, que veem na situação de crise apenas a urgência de salvar suas instituições e seus lucros, mostrando pouco interesse nas consequências já em curso na vida das pessoas e nas que ainda estão por vir. Mais ainda: bancos, empresas de tecnologias computo-informacionais, bem como políticos e líderes de organizações internacionais não hesitam em escancarar a crise como uma “janela de oportunidades” para novos negócios e a consequente intensificação da exploração do trabalho (em especial, na ampliação do trabalho remoto) e mutação nas formas de produção da obediência, nos controles eletrônicos a céu aberto e na ampliação do dispositivo monitoramento.

Somos um grupo de pesquisa dedicado à análise de políticas de segurança e monitoramentos e estamos, há um ano, desenvolvendo uma pesquisa sobre como estas medidas produzem a forma do autoritarismo no século XXI (“Políticas de segurança: a conformação transterritorial das democracias securitárias”, 2019-2020), a qual denominamos democracia securitária.

Reconhecemos o impacto da declaração da OMS (Organização Mundial da Saúde), de 11 de março de 2020, que decreta o que vivemos como uma “pandemia”. No entanto, não nos arvoramos a cobrir tudo o que diz respeito à pandemia – não contamos com pesquisadores da área médica e epidemiológica. Mas acreditamos, desde nossa alocação na universidade pública, que as análises possibilitadas pelas Ciências Humanas têm muito a dizer sobre o que se passa no planeta hoje, quais mutações esta situação de emergência pode gerar e quais saídas as coletividades humanas podem construir, tão inusitadas e radicais quanto a situação declarada como calamidade que se impõe.

A proposta deste boletim semanal é produzir uma compilação de informações, breves análises de nossos pesquisadores e cenários possíveis, unicamente no que diz respeito às políticas de segurança no planeta e com especial atenção ao Brasil, divididos em cinco tópicos.

LINK para o PDF com o Boletim completo.